domingo, 24 de janeiro de 2016

Tanzanita

Localização das minas de tanzanita na
Tanzânia, leste africano. Fonte:
Geology.com.
A tanzanita é uma gema de cor azul escura, tendendo para tons violetas. A descoberta de depósitos economicamente viáveis à exploração na década de 1960 fez com que esta pedra se tornasse uma opção interessante em substituição à safira no mercado de joias. A tanzanita é bastante rara, sendo sua ocorrência restrita a poucas localidades na Tanzânia, país que lhe dá o nome. Sua raridade e beleza foram utilizadas pela popular joalheria Tiffany's para torná-la uma das pedras preciosas mais desejadas e exclusivas no mercado, sendo anunciada como uma gema de cor azul profundo encontrada nas sombras do Monte Kilimanjaro. Com essa propaganda, a tanzanita rapidamente entrou no mercado competindo com outras gemas azuis já conhecidas há milênios, como a safira, a água marinha, e o topázio.

 
Tanzanita lapidada. Fonte: Gemstone.org.

Mineralogia

Tanzanita bruta, antes da lapidação. Fonte: John Betts Fine
Minerals.
A tanzanita, de fórmula (Ca2Al3(SiO4)(Si2O7)O(OH))+(Cr, Sr), é o nome comercial dado pela joalheria Tiffany's para os exemplares azul escuros ou violetas do mineral zoisita. A zoisita, do grupo dos epidotos, é um mineral bastante comum em diversas cores. A cor azul ocorre devido à presença de pequenas quantidades de vanádio na estrutura cristalina da zoisita.

No caso da tanzanita, a estrutura cristalina é bastante importante para o valor comercial do mineral: dependendo do ângulo de incidência da luz, a cor varia entre azul escuro, violeta e castanho avermelhado. Como os exemplares de tons mais violáceos são mais valorizados, é necessário conhecer a estrutura cristalográfica de cada mineral antes de definir o desenho final da pedra e iniciar seu corte. Este cuidado é necessário para garantir cores vívidas com o máximo brilho. Assim, o corte da tanzanita é delegado para os profissionais mais experientes e habilidosos.
A variação de cores também faz com que nem todos os exemplares de tanzanita encontrados na natureza tenham cor azul. Na verdade, grande parte das pedras apresenta uma cor castanha escura que não é atrativa para uso em joalheria. Experimentos de laboratório realizados após a descoberta da tanzanita demonstraram que o aquecimento do mineral aumenta seu tom azulado. Com este resultado, se iniciaram experimentos com tanzanitas castanhas. Quando aquecidos a temperaturas de 500 a 600°C, estes exemplares se tornam azuis, porque o aquecimento alter o estado de oxidação do vanádio, resultando em alteração da cor. Atualmente, quase todos os cristais de tanzanita comercializados passam por este tratamento. Nas imagens abaixo, extraídas de Geology.com, pode-se comparar a cor dos minerais antes do aquecimento (esquerda) e após o aquecimento (direita).


O tamanho dos exemplares de tanzanita é geralmente pequeno, com peso abaixo de 5 quilates. Exemplares com 15 quilates ou mais são raríssimos. Algumas características inerentes ao mineral fazem com que sejam necessários cuidados especiais com as joias que usam esta pedra: sua dureza de 6.5 torna necessário o máximo cuidado com a abrasão sobre a gema, para que outros minerais não a risquem; o contato com ácidos ou produtos químicos pode causar a alteração de sua cor e/ou a diminuição do brilho.
Exemplos de tanzanita lapidada. Fonte: Bronn Rocks.

A Comercialização de Tanzanita e o Terrorismo

Após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, o governo norte-americano iniciou um esforço conjunto do FBI e da CIA para a localização das fontes de renda de Osama Bin Laden e da organização Al Qaeda. As investigações levaram às minas de tanzanita, onde muitos mineradores confirmaram a ligação entre a exploração da pedra e a organização terrorista. Os resultados da investigação foram veementemente contestados pelo governo da Tanzânia. Anos depois, o secretário pessoal de Bin Laden, Wadih el Hage foi preso pelo governo norte-americano. Durante seu julgamento confirmou que a organização terrorista utilizava as gemas para movimentar grandes quantidades de dinheiro, já que uma única pequena pedra podia valer milhares de dólares. Este julgamento também foi importante por esclarecer que as empresas que comercializavam a gema não tinham conhecimento de sua ligação com o terrorismo. Apesar das informações chocantes, hoje em dia os Estados Unidos ainda compram 80% de toda tanzanita extraída, movimentando aproximadamente 300 milhões de dólares por ano.

Para saber mais:

- Características mineralógicas da tanzanita: http://geology.com/gemstones/tanzanite/
- Ligação com o terrorismo: http://abcnews.go.com/WNT/story?id=130573&page=1

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Porta do Inferno

Imagine-se andando em um deserto durante a noite. O calor insuportável do dia deu lugar ao frio da noite; a noite estrelada permite apenas um vislumbre do contorno das dunas. Então você vê um clarão em meio à escuridão. Esperando encontrar uma casa ou pelo menos uma fogueira, você avança. Você se depara com uma cratera em chamas e, se tentar usar a lógica, pode até pensar ser a cratera de impacto de um meteoro. Na verdade, esta é a chamada "Porta do Inferno", no Turcomenistão.

Localização da Porta do Inferno no Turcomenistão. Fonte: Google Maps.
A Porta do Inferno, também conhecida como Cratera de Fogo ou Cratera de Darvaza, se localiza na vila de Derweze, no deserto de Karakum, a aproximadamente 150 km da capital Ashgabat. O diâmetro da cratera é de 70 m, e sua profundidade é de 30 m. A paisagem exótica da cratera em chamas no meio do deserto atrai turistas para o pequeno vilarejo de Derweze, com apenas 350 habitantes.
A Cratera de Darvaza, no Turcomenistão. Fonte: Huffington Post.

Como a cratera se formou

Mesmo para geólogos, a Porta do Inferno é uma feição bastante incomum. Isso porque sua geração está diretamente ligada à ação humana sobre a natureza. Fatores naturais dificilmente originariam algo como a Cratera de Darvaza. A história começa no final dos anos 60 e começo dos anos 70, quando o Turcomenistão fazia parte da União Soviética. A região, apesar de seus extensos e inóspitos desertos, era economicamente atrativa por suas reservas de petróleo e gás, conhecidas desde antes da Segunda Guerra Mundial.
Vista do fundo da cratera. Fonte: Bestourism.

Durante uma perfuração em busca de um grande reservatório de petróleo em 1971, a equipe interceptou uma caverna com gás a uma profundidade de aproximadamente 30 m. O problema é que a perfuração e o escape de gás contribuíram para a instabilidade da caverna, que colapsou levando consigo os equipamentos de perfuração e parte do acampamento da equipe. Por sorte, ninguém se feriu no processo. Foi formada a cratera de Darvaza, por onde escapavam gases nocivos. Preocupados com a segurança dos habitantes de Derweze, os geólogos soviéticos decidiram incendiar a cratera, queimando o gás antes que fosse liberado para o meio ambiente.
Turistas contemplam a cratera. Fonte: Trip Advisor.
O problema da situação é que os geólogos subestimaram a quantidade de gás acumulado sob a cratera de Darvaza. Desde 1971 a caverna continua em chamas, e não há previsão para que o gás se extingua. Para os habitantes de Derweze, o que antes era uma ameaça à vida se tornou uma oportunidade de atrair turistas. Desde o incêndio da cratera, aproximadamente 50.000 turistas já visitaram a Porta do Inferno.


Interesse científico

Descenso de George Kourounis à cratera. Fonte:
National Geographic.
A Porta do Inferno, apesar de ser o fruto de um acidente, ofereceu lições importantes sobre o desenvolvimento de campos de petróleo e gás na região, e medidas foram tomadas para que fatos como este não se repetissem. Além do óbvio prejuízo econômico, vidas também foram colocadas em risco. Mas a cratera em chamas também representou uma oportunidade única para outra ciência: a Biologia.
Em 2013, o pesquisador George Kourounis e uma expedição parcialmente financiada pela National Geographic atingiram o fundo da cratera pela primeira vez desde sua formação. O objetivo da expedição era coletar amostras para a análise de micro organismos extremófilos, capazes de viver no calor da cratera. A equipe descobriu bactérias que viviam em um ambiente rico em metano, sob temperaturas que atingem 1000°C. Este resultado é importante ao demonstrar que, de fato, a vida é muito mais versátil a condições extremas do que imaginamos.


Turismo

Recentemente, o governo do Turcomenistão começou a incentivar o turismo ao deserto de Karakum e à Porta do Inferno, criando uma grande área de proteção ambiental. Entretanto, a estrutura ainda é precária: estradas ruins e mal sinalizadas, falta de estrutura de recepção e informação ao turista, e falta de segurança, pois a cratera não é cercada e suas bordas podem colapsar. O governo local incentiva o acesso ao local com guias, em carros off road alugados, quadriciclos ou camelos.

Para saber mais: