sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Porta do Inferno

Imagine-se andando em um deserto durante a noite. O calor insuportável do dia deu lugar ao frio da noite; a noite estrelada permite apenas um vislumbre do contorno das dunas. Então você vê um clarão em meio à escuridão. Esperando encontrar uma casa ou pelo menos uma fogueira, você avança. Você se depara com uma cratera em chamas e, se tentar usar a lógica, pode até pensar ser a cratera de impacto de um meteoro. Na verdade, esta é a chamada "Porta do Inferno", no Turcomenistão.

Localização da Porta do Inferno no Turcomenistão. Fonte: Google Maps.
A Porta do Inferno, também conhecida como Cratera de Fogo ou Cratera de Darvaza, se localiza na vila de Derweze, no deserto de Karakum, a aproximadamente 150 km da capital Ashgabat. O diâmetro da cratera é de 70 m, e sua profundidade é de 30 m. A paisagem exótica da cratera em chamas no meio do deserto atrai turistas para o pequeno vilarejo de Derweze, com apenas 350 habitantes.
A Cratera de Darvaza, no Turcomenistão. Fonte: Huffington Post.

Como a cratera se formou

Mesmo para geólogos, a Porta do Inferno é uma feição bastante incomum. Isso porque sua geração está diretamente ligada à ação humana sobre a natureza. Fatores naturais dificilmente originariam algo como a Cratera de Darvaza. A história começa no final dos anos 60 e começo dos anos 70, quando o Turcomenistão fazia parte da União Soviética. A região, apesar de seus extensos e inóspitos desertos, era economicamente atrativa por suas reservas de petróleo e gás, conhecidas desde antes da Segunda Guerra Mundial.
Vista do fundo da cratera. Fonte: Bestourism.

Durante uma perfuração em busca de um grande reservatório de petróleo em 1971, a equipe interceptou uma caverna com gás a uma profundidade de aproximadamente 30 m. O problema é que a perfuração e o escape de gás contribuíram para a instabilidade da caverna, que colapsou levando consigo os equipamentos de perfuração e parte do acampamento da equipe. Por sorte, ninguém se feriu no processo. Foi formada a cratera de Darvaza, por onde escapavam gases nocivos. Preocupados com a segurança dos habitantes de Derweze, os geólogos soviéticos decidiram incendiar a cratera, queimando o gás antes que fosse liberado para o meio ambiente.
Turistas contemplam a cratera. Fonte: Trip Advisor.
O problema da situação é que os geólogos subestimaram a quantidade de gás acumulado sob a cratera de Darvaza. Desde 1971 a caverna continua em chamas, e não há previsão para que o gás se extingua. Para os habitantes de Derweze, o que antes era uma ameaça à vida se tornou uma oportunidade de atrair turistas. Desde o incêndio da cratera, aproximadamente 50.000 turistas já visitaram a Porta do Inferno.


Interesse científico

Descenso de George Kourounis à cratera. Fonte:
National Geographic.
A Porta do Inferno, apesar de ser o fruto de um acidente, ofereceu lições importantes sobre o desenvolvimento de campos de petróleo e gás na região, e medidas foram tomadas para que fatos como este não se repetissem. Além do óbvio prejuízo econômico, vidas também foram colocadas em risco. Mas a cratera em chamas também representou uma oportunidade única para outra ciência: a Biologia.
Em 2013, o pesquisador George Kourounis e uma expedição parcialmente financiada pela National Geographic atingiram o fundo da cratera pela primeira vez desde sua formação. O objetivo da expedição era coletar amostras para a análise de micro organismos extremófilos, capazes de viver no calor da cratera. A equipe descobriu bactérias que viviam em um ambiente rico em metano, sob temperaturas que atingem 1000°C. Este resultado é importante ao demonstrar que, de fato, a vida é muito mais versátil a condições extremas do que imaginamos.


Turismo

Recentemente, o governo do Turcomenistão começou a incentivar o turismo ao deserto de Karakum e à Porta do Inferno, criando uma grande área de proteção ambiental. Entretanto, a estrutura ainda é precária: estradas ruins e mal sinalizadas, falta de estrutura de recepção e informação ao turista, e falta de segurança, pois a cratera não é cercada e suas bordas podem colapsar. O governo local incentiva o acesso ao local com guias, em carros off road alugados, quadriciclos ou camelos.

Para saber mais:

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