domingo, 24 de janeiro de 2016

Tanzanita

Localização das minas de tanzanita na
Tanzânia, leste africano. Fonte:
Geology.com.
A tanzanita é uma gema de cor azul escura, tendendo para tons violetas. A descoberta de depósitos economicamente viáveis à exploração na década de 1960 fez com que esta pedra se tornasse uma opção interessante em substituição à safira no mercado de joias. A tanzanita é bastante rara, sendo sua ocorrência restrita a poucas localidades na Tanzânia, país que lhe dá o nome. Sua raridade e beleza foram utilizadas pela popular joalheria Tiffany's para torná-la uma das pedras preciosas mais desejadas e exclusivas no mercado, sendo anunciada como uma gema de cor azul profundo encontrada nas sombras do Monte Kilimanjaro. Com essa propaganda, a tanzanita rapidamente entrou no mercado competindo com outras gemas azuis já conhecidas há milênios, como a safira, a água marinha, e o topázio.

 
Tanzanita lapidada. Fonte: Gemstone.org.

Mineralogia

Tanzanita bruta, antes da lapidação. Fonte: John Betts Fine
Minerals.
A tanzanita, de fórmula (Ca2Al3(SiO4)(Si2O7)O(OH))+(Cr, Sr), é o nome comercial dado pela joalheria Tiffany's para os exemplares azul escuros ou violetas do mineral zoisita. A zoisita, do grupo dos epidotos, é um mineral bastante comum em diversas cores. A cor azul ocorre devido à presença de pequenas quantidades de vanádio na estrutura cristalina da zoisita.

No caso da tanzanita, a estrutura cristalina é bastante importante para o valor comercial do mineral: dependendo do ângulo de incidência da luz, a cor varia entre azul escuro, violeta e castanho avermelhado. Como os exemplares de tons mais violáceos são mais valorizados, é necessário conhecer a estrutura cristalográfica de cada mineral antes de definir o desenho final da pedra e iniciar seu corte. Este cuidado é necessário para garantir cores vívidas com o máximo brilho. Assim, o corte da tanzanita é delegado para os profissionais mais experientes e habilidosos.
A variação de cores também faz com que nem todos os exemplares de tanzanita encontrados na natureza tenham cor azul. Na verdade, grande parte das pedras apresenta uma cor castanha escura que não é atrativa para uso em joalheria. Experimentos de laboratório realizados após a descoberta da tanzanita demonstraram que o aquecimento do mineral aumenta seu tom azulado. Com este resultado, se iniciaram experimentos com tanzanitas castanhas. Quando aquecidos a temperaturas de 500 a 600°C, estes exemplares se tornam azuis, porque o aquecimento alter o estado de oxidação do vanádio, resultando em alteração da cor. Atualmente, quase todos os cristais de tanzanita comercializados passam por este tratamento. Nas imagens abaixo, extraídas de Geology.com, pode-se comparar a cor dos minerais antes do aquecimento (esquerda) e após o aquecimento (direita).


O tamanho dos exemplares de tanzanita é geralmente pequeno, com peso abaixo de 5 quilates. Exemplares com 15 quilates ou mais são raríssimos. Algumas características inerentes ao mineral fazem com que sejam necessários cuidados especiais com as joias que usam esta pedra: sua dureza de 6.5 torna necessário o máximo cuidado com a abrasão sobre a gema, para que outros minerais não a risquem; o contato com ácidos ou produtos químicos pode causar a alteração de sua cor e/ou a diminuição do brilho.
Exemplos de tanzanita lapidada. Fonte: Bronn Rocks.

A Comercialização de Tanzanita e o Terrorismo

Após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, o governo norte-americano iniciou um esforço conjunto do FBI e da CIA para a localização das fontes de renda de Osama Bin Laden e da organização Al Qaeda. As investigações levaram às minas de tanzanita, onde muitos mineradores confirmaram a ligação entre a exploração da pedra e a organização terrorista. Os resultados da investigação foram veementemente contestados pelo governo da Tanzânia. Anos depois, o secretário pessoal de Bin Laden, Wadih el Hage foi preso pelo governo norte-americano. Durante seu julgamento confirmou que a organização terrorista utilizava as gemas para movimentar grandes quantidades de dinheiro, já que uma única pequena pedra podia valer milhares de dólares. Este julgamento também foi importante por esclarecer que as empresas que comercializavam a gema não tinham conhecimento de sua ligação com o terrorismo. Apesar das informações chocantes, hoje em dia os Estados Unidos ainda compram 80% de toda tanzanita extraída, movimentando aproximadamente 300 milhões de dólares por ano.

Para saber mais:

- Características mineralógicas da tanzanita: http://geology.com/gemstones/tanzanite/
- Ligação com o terrorismo: http://abcnews.go.com/WNT/story?id=130573&page=1

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A Porta do Inferno

Imagine-se andando em um deserto durante a noite. O calor insuportável do dia deu lugar ao frio da noite; a noite estrelada permite apenas um vislumbre do contorno das dunas. Então você vê um clarão em meio à escuridão. Esperando encontrar uma casa ou pelo menos uma fogueira, você avança. Você se depara com uma cratera em chamas e, se tentar usar a lógica, pode até pensar ser a cratera de impacto de um meteoro. Na verdade, esta é a chamada "Porta do Inferno", no Turcomenistão.

Localização da Porta do Inferno no Turcomenistão. Fonte: Google Maps.
A Porta do Inferno, também conhecida como Cratera de Fogo ou Cratera de Darvaza, se localiza na vila de Derweze, no deserto de Karakum, a aproximadamente 150 km da capital Ashgabat. O diâmetro da cratera é de 70 m, e sua profundidade é de 30 m. A paisagem exótica da cratera em chamas no meio do deserto atrai turistas para o pequeno vilarejo de Derweze, com apenas 350 habitantes.
A Cratera de Darvaza, no Turcomenistão. Fonte: Huffington Post.

Como a cratera se formou

Mesmo para geólogos, a Porta do Inferno é uma feição bastante incomum. Isso porque sua geração está diretamente ligada à ação humana sobre a natureza. Fatores naturais dificilmente originariam algo como a Cratera de Darvaza. A história começa no final dos anos 60 e começo dos anos 70, quando o Turcomenistão fazia parte da União Soviética. A região, apesar de seus extensos e inóspitos desertos, era economicamente atrativa por suas reservas de petróleo e gás, conhecidas desde antes da Segunda Guerra Mundial.
Vista do fundo da cratera. Fonte: Bestourism.

Durante uma perfuração em busca de um grande reservatório de petróleo em 1971, a equipe interceptou uma caverna com gás a uma profundidade de aproximadamente 30 m. O problema é que a perfuração e o escape de gás contribuíram para a instabilidade da caverna, que colapsou levando consigo os equipamentos de perfuração e parte do acampamento da equipe. Por sorte, ninguém se feriu no processo. Foi formada a cratera de Darvaza, por onde escapavam gases nocivos. Preocupados com a segurança dos habitantes de Derweze, os geólogos soviéticos decidiram incendiar a cratera, queimando o gás antes que fosse liberado para o meio ambiente.
Turistas contemplam a cratera. Fonte: Trip Advisor.
O problema da situação é que os geólogos subestimaram a quantidade de gás acumulado sob a cratera de Darvaza. Desde 1971 a caverna continua em chamas, e não há previsão para que o gás se extingua. Para os habitantes de Derweze, o que antes era uma ameaça à vida se tornou uma oportunidade de atrair turistas. Desde o incêndio da cratera, aproximadamente 50.000 turistas já visitaram a Porta do Inferno.


Interesse científico

Descenso de George Kourounis à cratera. Fonte:
National Geographic.
A Porta do Inferno, apesar de ser o fruto de um acidente, ofereceu lições importantes sobre o desenvolvimento de campos de petróleo e gás na região, e medidas foram tomadas para que fatos como este não se repetissem. Além do óbvio prejuízo econômico, vidas também foram colocadas em risco. Mas a cratera em chamas também representou uma oportunidade única para outra ciência: a Biologia.
Em 2013, o pesquisador George Kourounis e uma expedição parcialmente financiada pela National Geographic atingiram o fundo da cratera pela primeira vez desde sua formação. O objetivo da expedição era coletar amostras para a análise de micro organismos extremófilos, capazes de viver no calor da cratera. A equipe descobriu bactérias que viviam em um ambiente rico em metano, sob temperaturas que atingem 1000°C. Este resultado é importante ao demonstrar que, de fato, a vida é muito mais versátil a condições extremas do que imaginamos.


Turismo

Recentemente, o governo do Turcomenistão começou a incentivar o turismo ao deserto de Karakum e à Porta do Inferno, criando uma grande área de proteção ambiental. Entretanto, a estrutura ainda é precária: estradas ruins e mal sinalizadas, falta de estrutura de recepção e informação ao turista, e falta de segurança, pois a cratera não é cercada e suas bordas podem colapsar. O governo local incentiva o acesso ao local com guias, em carros off road alugados, quadriciclos ou camelos.

Para saber mais:

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Monte Roraima

Uma fortaleza natural guarda os segredos de um dos ambientes mais exóticos de nosso planeta: o Monte Roraima, na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Este grande tepuí (ou mesa), cujas altitudes de topo oscilam entre 1000 e 2800 m, inspirou lendas e mitos dos povos nativos e de exploradores europeus durante séculos. Povos nativos que viviam na floresta tropical ou nas grandes savanas que cercam o monte, acreditavam que o monte havia se erguido do solo como punição à mácula de uma árvore sagrada. O Monte Roraima também seria o lar do deus Makunaíma, que controlava os trovões.

O magnífico platô do Monte Roraima sobre as nuvens. 
Monte Roraima visto à distância.
Exploradores ingleses avistaram a montanha pela primeira vez em 1595, batizando-a de Montanha de Cristal, devido às quedas d'água cristalina que vinham do topo. Estes exploradores consideraram os paredões intransponíveis. No século XIX, a febre por explorações de naturalistas em busca de novas descobertas levou muitos exploradores a tentar chegar ao topo do monte, feito conquistado por sir Everard im Thurn em 1884. Este também foi um período de surgimento de novas lendas, como da existência de seres pré-históricos ou povos primitivos no alto do platô. Algumas destas lendas inspiraram o escritos sir Arthur Conan Doyle, que em 1912 lançou "O Mundo Perdido". Este clássico da literatura conta as aventuras do fictício professor Challenger em um platô isolado na América do Sul, onde dinossauros e outros seres extintos viviam, e onde povos indígenas lutavam contra homens-macacos primitivos. Recentemente, estas histórias inspiraram a animação Up!, da Pixar, que reconstrói de forma excelente as paisagens do topo do Monte Roraima.
Queda d'água no Monte Roraima. Fonte: Sertão Expedições.
A realidade é muito diferente da ficção, mas não menos impressionante. O platô e seus paredões abrigam espécies endêmicas de insetos, aracnídeos, répteis e anfíbios, além de inúmeras espécies de fungos e plantas. Esta variedade é resultado do isolamento geográfico do platô e de condições climáticas específicas, muito diferentes das planícies circundantes: uma estação seca e uma estação úmida, e temperaturas entre 20 e 32° C, mas com mínimas de até 8° C nos pontos mais altos.

Geologia e Geomorfologia

O Monte Roraima é composto por rochas sedimentares e vulcânicas depositadas em uma antiga bacia sedimentar desenvolvida sobre o escudo das Guianas, a Bacia Roraima. Rochas depositadas nesta bacia afloram em partes do norte do Brasil, Venezuela, Guiana e Suriname, e totalizam uma espessura de aproximadamente 2900 m. Datações das rochas vulcânicas que pontuam o empilhamento sedimentar resultaram em idades entre 1,8 e 1,6 bilhões de anos. Ou seja, essas rochas são tão antigas que, se voltássemos no tempo, não seríamos capazes de reconhecer nosso planeta!

O Monte Roraima visto à distância. Fonte: Adventure Club.
Onde hoje é o Monte Roraima veríamos um vasto mar interior conectado ao oceano, cercado por uma paisagem rochosa de montanhas escarpadas e vulcões. Neste período, a forma mais avançada de vida era de bactérias autotróficas - sua fotossíntese pouco a pouco liberava oxigênio na atmosfera. A falta de vegetação para proteger o solo da erosão permitia que os processos de denudação do relevo atuassem com eficácia muito maior do que hoje em dia, o que resultou em depósitos sedimentares em geral mal selecionados, misturando grãos de diferentes tamanhos e composições minerais.
Apesar da longa história deposicional da Bacia Roraima - aproximadamente 200 milhões de anos -, o Monte Roraima é composto apenas pelas últimas duas formações: a Formação Uailã (base do monte) e a Formação Matauaí (topo do monte). A Formação Uailã é composta por espessas camadas de arenitos conglomeráticos a arcoseanos, intercalados com rochas de origem vulcânica como tufos e ignimbritos. A Formação Matauí registra uma fase de continentalização da bacia: arenitos formados em uma região litorânea influenciada por marés dão lugar a arenitos eólicos e que compunham antigas dunas e, finalmente, a arenitos imaturos de origem fluvial.

Monolitos de formas diversas sobre o platô. Fonte: Thinkstock.
"Jacuzzis" desenvolvidas sobre o arenito. Fonte: Correio do Brasil.
A composição predominantemente de arenitos intercalados com rochas vulcânicas é muito importante para as características geomorfológicas atuais do Monte Roraima. Após a deposição, conforme a bacia era soterrada e se tornava inativa, o aumento da temperatura e pressão e a circulação de fluidos pelas rochas permitiram sua litificação - a transformação de sedimentos inconsolidados em rochas. Os fluidos em circulação levavam consigo parte da sílica das rochas vulcânicas e dos grãos de quartzo dos arenitos. A posterior precipitação desta sílica ocasionou a cimentação destas rochas, o que as tornou resistente à erosão.

Quartzo no "Vale dos Cristais". Foto: Claire Taylor.
Assim, mesmo em uma região de clima tropical com alta pluviosidade, os arenitos da Formação Matauí conseguem sustentar o relevo em forma de mesa do Monte Roraima. As chuvas diárias sustentam as quedas d'água originadas no platô durante todo o ano. Mas a ação erosiva da água resultou em formas fantásticas sobre o platô, como monolitos de diversas formas resistentes à erosão, formação de "tapetes de cristal" (exposição de camadas com concentração de quartzo), "jacuzzis" (buracos feitos pela turbulência da água em períodos mais chuvosos), entre outras. A circulação de água com alta energia na estação úmida também foi responsável pela escavação de grandes cavernas, que consistem em habitats exclusivos sobre o platô. Nas épocas de chuva, rios e cascatas subterrâneos se formam nestas cavernas.

Como chegar

O acesso de turistas ao Monte Roraima pode ser feito tanto pelo Brasil quanto pela Venezuela. No Brasil, a região se encontra dentro do Parque Nacional do Monte Roraima, administrado pelo IBAMA. Como se trata de uma região de conflito de interesses de povos indígenas nativos, e garimpos ilegais, não há estrutura para turismo e a prioridade de autorização para o acesso ao monte é para pesquisadores. Assim, para ascender ao platô é necessário organizar uma expedição bem treinada em trekking e escalada, com guias e carregadores, e com as devidas autorizações do IBAMA. O ideal é contratar uma empresa ou agência especializada. O acesso pela Venezuela é menos burocrático, mas os cuidados são os mesmos: as trilhas são pesadas e exigem vários dias de caminhada. Neste caso, porém, existe a possibilidade de realizar um voo de helicóptero para o platô, em expedições que duram de 2 a 4 dias. As expedições saem da cidade de Santa Elena de Uairén.
Voo de helicóptero para o Monte Roraima. Fonte: Roraima Brasil.


Para saber mais:

Próximo Post:

Uma cratera em chamas no deserto.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Grande Buraco Azul de Belize

Localização do Grande Buraco Azul, em Belize.
Nas águas quentes e cristalinas do Mar do Caribe, aproximadamente 100 km distante da cidade de Belize, um círculo perfeito de águas escuras se destaca em meio às águas claras do recife de corais de Lighthouse. Se trata do "Grande Buraco Azul" de Belize, um paraíso natural citado pelo explorador Jacques-Yves Cousteau como um dos dez melhores pontos de mergulho do mundo. Foi o mergulhador francês que tornou esta feição mundialmente famosa em 1972, ao definir uma rota segura para barcos através dos corais, e explorar o local com seu submarino tripulado. Nos anos que se seguiram, a região foi considerada área de proteção ambiental pelo governo de Belize, e finalmente considerada patrimônio natural pela UNESCO.
Vista aérea do Grande Buraco Azul, no recife de Lighthouse.
Há poucas informações sobre explorações mais antigas do local por povos nativos. Mitos e lendas locais consideravam que o Grande Buraco Azul era o lar de aterrorizantes monstros submarinos, enquanto outras diziam que ele não tem fundo. Provavelmente estas lendas derivam da antiga cultura do Maias, que dominaram a América Central até a conquista espanhola. Eles consideravam o buraco uma entrada sagrada para o submundo.
O barco como escala dá uma ideia das dimensões do Grande Buraco Azul. Foto por Getty Images.
Imagem da NASA mostrando o Grande Buraco Azul visto
em imagem de satélite.
As dimensões desta feição são, de fato, impressionantes: diâmetro de 300 m e profundidade máxima de 124 m. Estas dimensões e o contraste de cor com as águas ao redor tornam o Grande Buraco Azul visível do espaço. Seus grande tamanho e profundidade oferecem relativa segurança contra predadores e o tornam é um paraíso para a vida marinha, concentrando diversas espécies de peixes, incluindo diversas espécies de tubarões.


Formação da Feição

Quando Jacques Cousteau explorou pela primeira vez o Grande Buraco Azul, se deparou com um sistema de cavernas com estalactites e estalagmites, como as formadas em cavernas não submersas. Este fato levou à conclusão de que a geração destas cavernas se iniciou em um período em que a região esteve acima do nível do mar.
Salão de estalactites e estalagmites em caverna anexa ao Grande Buraco Azul.
Formação de estalactites e estalagmites em caverna atual.
Fonte: Brasil Escola.
Para compreender melhor a história geológica da feição, é necessário conhecer alguns fatos importantes sobre as rochas que compõem a área: os calcários. Calcário é um termo que abrange um grupo de rochas compostas principalmente por carbonatos de cálcio (CaCO3). O carbonato é solúvel sob influência de água fria, fazendo com que a circulação de águas fluviais ou pluviais formem cavernas, dolinas e sumidouros. O relevo formado nestas condições é o chamado relevo kárstico. As estalactites e estalagmites se formam pelo lento gotejar de água rica em carbonatos, que se precipitam quimicamente ao longo de milhares de anos.

Datações isotópicas de estalactites e estalagmites do Grande Buraco Azul remontam a uma história que se iniciou a 150.000 anos atrás. As idades mais recentes para estas estruturas são de apenas 15.000 anos atrás, indicando um período de tempo extenso em que as cavernas estavam sendo formadas em condições emersas. Este período de tempo coincide com episódios de glaciação ao longo do Quaternário, em que a concentração de gelo glacial principalmente no hemisfério norte ocasionou quedas do nível do mar. Conforme se iniciava um período de deglaciação em função do aquecimento natural do clima a aproximadamente 18.000 anos atrás, o gradual recuo e derretimento de geleiras ocasionou a subida do nível do mar, inundando o sistema de cavernas.
Localização da Placa do Caribe, e seu movimento em relação à
Placa da América do Norte.
Entretanto, o Grande Buraco Azul tem algumas características peculiares, como a estranha inclinação das estalactites e estalagmites. Esta inclinação é provavelmente decorrente de ajustes tectônicos na região tectonicamente ativa do Caribe, próximo ao limite entre a Placa Norte Americana e a Placa do Caribe. Neste contexto, um grande terremoto pode ter sido responsável pelo colapso do teto da caverna e formação do Grande Buraco Azul.
Apesar da história geológica do Grande Buraco Azul já estar contada, ele ainda pode ajudar muito para a ciência: se trata de uma feição submarina de grande profundidade, onde a poeira atmosférica que entra em contato com a água e carapaças de micro-organismos marinhos precipitam lentamente e são depositados no fundo sem que haja perturbação destes sedimentos. Assim, o estudo dos sedimentos é útil no monitoramento das mudanças ambientais que ocorreram na região do Caribe nos últimos 15.000 anos.

Como chegar ao Grande Buraco Azul?

Na época de alta temporada de turismo, diversas expedições partem diariamente de Belize para o Grande Buraco Azul. Voos de helicóptero podem ser agendados em pacotes que geralmente incluem o sobrevoo da costa de Belize e de diversos atóis e barreiras de coral. Para os que querem um contato mais direto, expedições de mergulho e snorkel colocam o visitante em contato direto com a fauna submarina. É sempre bom lembrar que o snorkel dispensa treinamento anterior, enquanto para o mergulho se indica certo treinamento e experiência.
Snorkel no entorno do Grande Buraco Azul.

Para saber mais:

- Turismo em Belize: http://www.belize.com
- Pesquisa no Grande Buraco Azul: http://soundwaves.usgs.gov/2001/06/

Próximo post:

Uma das paisagens mais exóticas do Brasil.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ball's Pyramid

No Oceano Pacífico, a aproximadamente 800 km a nordeste de Sidney (Austrália), se ergue uma ilha rochosa que parece ter saído da tela de um filme como King Kong: Ball's Pyramid, uma ilha com forma de lâmina cujo pico se ergue 562 m acima da linha da água. Apesar da grande altitude, a ilha tem apenas 1100 m de comprimento e 300 m de largura. A ilha se assenta sobre o platô submarino de Lord Howe, no mar da Tasmânia, em uma área de proteção ambiental da UNESCO.

Ball's Pyramid por Hatty Gottschalk.

Sua descoberta ocorreu em 1788, pelo tenente britânico Henry Lidgbird Ball. A ilustração de 1789, de autoria do britânico Arthur Phillip, dá uma ideia da visão que o tenente Ball teve da ilha e do arquipélago:

Ilustração de Arthur Phillip da ilha e suas vizinhas.

"Momento de triunfo em pico oceânico" - anúncio do sucesso
da escalada de 1965.
Na ocasião o tenente Ball não conseguiu desembarcar na ilha ou nas suas vizinhas. A difícil tarefa ficou a cargo do geólogo britânico Henry Wilkinson, em 1882. Logo, a forma escarpada espetacular da ilha começou a atrair escaladores. A primeira expedição chegou ao cume em 1965, formada por um grupo de escaladores australianos que partiu de Sidney. Apenas em 1979 uma expedição fincou a bandeira australiana no cume, oficializando a ilha como parte do território australiano.




O que dá a essa ilha um formato tão espetacular?

Para responder a essa pergunta é necessário voltar no tempo para aproximadamente 6.9 milhões de anos atrás. Neste período teve início uma fase de intensa atividade vulcânica na região em que hoje se situa a ilha, sobre uma porção submersa da placa tectônica da Nova Zelândia. Como resultado, se formou um grande vulcão-escudo: um amplo vulcão com forma de domo, construído por sucessivas extrusões de basalto não explosivas. Estima-se que o vulcão em questão chegou a ter 30 km de diâmetro e se erguia até 1 km acima do mar. Há 6.3 milhões de anos, enquanto a erosão já destruía partes deste grande vulcão, se iniciou uma nova fase de atividade vulcânica. Desta vez, lavas de composição basáltica preencheram as antigas caldeiras e condutos do vulcão, formando camadas horizontais com espessuras que variam de 1 a 30 m.

Derrames basálticos que compõem a ilha, por The Doc - AUS.

Com o passar de milhões de anos de erosão marinha e eólica, pouco restou da estrutura original do vulcão, apenas feições submersas. As grandes estruturas que se assomam do mar atualmente são os basaltos da segunda fase de atividade vulcânica, mais resistentes à erosão. Portanto, Ball's Pyramid e suas ilhas vizinhas conservam a localização da caldeira vulcânica e de seus principais condutos. Estas feições são conhecidas como plugs vulcânicos. Infelizmente, estes também serão eventualmente erodidos.
Forma estranhamente alinhada de Ball's Pyramid,por Marine Metadata.
Mas, mesmo considerando outros plugs vulcânicos ao redor do planeta, Ball's Pyramid se destaca por seu formato alinhado para noroeste, em direção compartilhada por diversas feições erosivas identificadas na ilha. Estas estruturas são interpretadas como resultado da passagem de tsunamis, em especial uma mega tsunami registrada em outras ilhas da região e na costa australiana. Portanto a forma de Ball's Pyramid é resultado da combinação de forças erosivas persistentes ao longo de milhões de anos com forças erosivas catastróficas e episódicas.



Como chegar à ilha?

Chegar a Ball's Pyramid pode ser realmente difícil, considerando que seu acesso é restrito desde 1990, devido aos riscos na escalada de uma ilha tão isolada e ao seu ecossistema único. O jeito mais fácil é, a partir de Sidney, pegar um voo para a ilha vizinha, Lord Howe. Esta ilha paradisíaca conta com uma boa estrutura para receber turistas interessados em belas praias, surfe, mergulho e outros esportes. De lá, existem expedições para mergulho nas cavernas submarinas de Ball's Pyramid e suas ilhas vizinhas, onde os visitantes podem encontrar diversas espécies de peixes, golfinhos e tartarugas marinhas. Para escaladas na ilha, é necessário organizar uma expedição com autorização do governo australiano.
Para finalizar, deixo este impressionante vídeo do esportista Jeb Corliss saltando sobre a ilha:

Essa é a ilha de Lord Howe. Vale a visita?

Links para quem quer conhecer mais:

- turismo na ilha de Lord Howe: https://www.lordhoweisland.info/

Próximo Post:

Como se formou esta estrutura?